Estranha Lua

Que estranha é esta lua
Tão cheia como um ventre
Senhora das marés
Da noite feiticeira?
Que estranha é esta lua
Suspensa e de repente
Desmaiada a meus pés
Com clarões de fogueira?

Que estranha é esta lua que se mostra á cidade
Despida sem pudor, em quartos minguantes?
Que estranha é esta lua, mulher-corpo á vontade
Num convite d'amor, á noite dos amantes?

Que estranha é esta lua que dum quarto crescente
Em fases se renova, com gestos de bailado?
Que estranha é esta lua, do ventre do poente
Nascida lua nova, candeia do meu fado?

Ás vezes reconheço que há lágrimas de lume
Rasgando o meu olhar, quando te vejo nua
Assim, quase adoeço no peito este ciúme
E a voz quer-me gritar, que estranha é esta lua!

(Mário Raínho / Ricardo Cruz)

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