Amor vivo


Amar! Mas d' um amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos harpejos,
Não sejam só delírios e desejos
D' uma doida cabeça escandecida...

Amor que viva e brilhe! Luz fundida
Que penetre o meu ser - e não só beijos
Dados no ar ─ delírios e desejos ─
Mas amor... dos amores que tem vida...

Sim, vivo e quente! E já a luz do dia
Não virá dissipá-lo nos meus braços
Como névoa da vaga fantasia...

Nem murchará do sol a chama erguida ...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra uns débeis amores... se têm vida?

(Antero de Quental)

1 comentario:

Graça dijo...

É sempre bom reencontrar Antero, o Antero que também foi solar, que soube deixar-se guiar pelo ideal e pela paixão - cuja forma "transitória e imperfeita" reconheceria noutros sonetos.
Custa a crer que o mesmo Antero escrevesse "Que sempre o mal pior é ter nascido"...
Obrigada por divulgares o maior poeta da minha ilha e um dos maiores do meu país.