Lembro-me de ti

a Roberto, por "nosso país"

Eu lembro-me de ti
Chamavas-te Saudade
Vivias num moinho
Ao cima dum outeiro
Tamanquinha no pé
Lenço posto à vontade
Nesse tempo eras tu
A filha dum moleiro
Eu lembro-me de ti
Passavas para a fonte
Pousando num quadril
O cantaro de barro
Imitavas em graça
A cotovia insonte
E mugias o gado
Até encheres o tarro
Eu lembro-me de ti
E às vezes a farinha
Vestia-te de branco
E parecias então
Uma virgem gentil
Que fosse à capelinha
Um dia de manhã
Fazer a comunhão
Eu lembro-me de ti
E fico-me aturdido
Ao ver-te pela rua
Em gargalhadas francas
Pretendo confundir
A pele do teu vestido
Com a sedosa lã
Das ovelhinhas brancas
Eu lembro-me de ti
Ao ver-te num casino
Descarada a fumar
Luxuoso cigarro
Fecho os olhos e vejo
O teu busto franzino
Com o avental da cor
Do cantaro de barro
Eu lembro-me de ti
Quando no torvelinho
Da dança sensual
Passas louca rolando
Eu sonho eu fantazio
E vejo o teu moinho
Que bailava tambem
Ao vento assobiando
Eu lembro-me de ti
E fico-me a cismar-te
Que o nome de Lucy
Que tens não é verdade
Que saudade que eu tenho
E leio no teu olhar
A saudade que tens
De quando eras Saudade

(João Linhares Barbosa / Alfredo Marceneiro)

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